30 de dezembro de 2014


Tão raso

Seria mais fácil
Ser carregado pela maré,
Sem resistir,
Desembocar
Em uma esquina qualquer

Sem escrever o roteiro,
Nem desvendar os segredos,
Desconhecer os sentidos,
Acreditar apenas em destino,

Bastaria a ignorância
E um pouquinho de fé

As relações se tornariam artificiais,
Os cortes não mais que superficiais
As feridas cicatrizariam nas compras de natal
Um abraço frouxo,
Desejos de um próspero ano novo

E a frágil esperança,
Que um corte no tempo,
Sopre bons ventos
E leve embora todo o mal.

Chuva de livros - Cooperifa


18 de dezembro de 2014

Fagulha

Palavra lâmina,
Intrépida navalha,
Corta, penetra,
Sangra, desconstrói,
Remói, dilacera

Desperta,

Sorve, Sutura,
Reconstrói, inserta,
Exala, extravasa,
Renasce poema
A palavra

Das vísceras do poeta.

23 de setembro de 2014

2 de setembro de 2014

Sol nascente

Para a minha filha Cecília

Brisa da manhã,
Luz e orvalho
Sobre a folha hortelã,
Aroma de anseio
Que invade a alma
Pelas vielas do peito,
Transborda vida,
Sol nascente
Cecília,
Amor e amanhã.

29 de agosto de 2014

5 de agosto de 2014

Cantos Tortos

Ao camarada Lucas Bronzatto
Poesia afiada,
Um machado, uma navalha,
Um espelho estilhaçado
Na garganta do descaso

Poesia torta
Talhada em verso e prosa
Foice e martelo
No áspero cinza, céu de concreto,

Poesia vermelha,
De sonhos e veias abertas,
Arte poética de los Andes
Também de becos e vielas,

Cantos tortos,
Poesia de trincheira,
Terrorismo, front
E vandalismo de poeta.

7 de julho de 2014

29 de abril de 2014

Caiu no mundo

Puta que pariu e não deixou rastro,
Caiu no mundo com o filho nos braços,
Engravidou do primeiro namorado,
Que lhe virou as costas ao ser informado,
A menina que de repente virou mulher
Deixou para trás os sonhos e a fé
Quando deu de cara com a frieza da estrada,
Sem ter o que comer,
O leite secou
E o choro da fome cravou
O espinho mais fundo,
Ainda sangrando foi a luta
Não havia tempo para lamentar,
O corpo foi o que sobrou para negociar,
Na primeira noite, não se amedrontou,
Tirou as vestes empoeiradas 
E sem cerimônia,
Realizou o seu novo trabalho.
Deste dia em diante,
O filho da puta foi bem alimentado,
Recebeu afeto, educação,
Todo o necessário,
Enquanto o pai ausente,
Frequenta igreja e se diz honrado,
A mãe guerreira é vista

Como mulher de vida fácil.

Cooperifa


18 de março de 2014

O Brasil e o jornalismo

jornalista clama pela alta dos juros 
E pede a redução dos gastos públicos, 
Diz que a inflação está voltando, 
A balança comercial decepcionando, 
O colunista afirma que os salários estão muito altos  
E que dessa maneira a indústria brasileira não tem como competir no mercado globalizado
-Já paga tanto imposto 
O índice de crescimento econômico dá desgosto
(Nessa hora, vale até comparar com a China) 
Os escândalos de corrupção não param de pipocar 
Mas aquele de dez anos atrás, continua a se destacar 
"O maior esquema de corrupção de todos os tempos" 
O rei do futebol diz que os estádios são de primeiro mundo, 
Que sem grandes investimentos, não tem Copa do Mundo, 
Mas não tem dúvida,
Será uma grande evento,
-Os protestos passam, mas o progresso fica!
O entusiasta afirma.
Na Venezuela, estudantes e manifestantes protestam contra o governo e queimam prédios públicos, 
No Brasil, os vândalos mascarados precisam ser punidos
Com leis antiterrorismo,
A comentarista pede mais força policial 
A violência aumenta, a polícia mata, a imprensa cala, 
Um cinegrafista morre, o sangue escorre em horário nobre, 
Com culpados apontados em telefone sem fio,
Os garis deixam a cidade imunda em pleno carnaval, 
-Isto é uma vergonha 
(Os políticos jogam a sujeira pra debaixo do tapete e tentam reprimir a greve com ameaças e demissões, 
Os trabalhadores puxam o tapete persa dos gabinetes oficiais e sindicais 
E conseguem uma vitória histórica, que por motivos extra oficiais,
Não será televisionada)

Enquanto isso...
Nas avenidas "Brasil" 
A polícia atira, recolhe e arrasta 
Trabalhadora negra atingida por bala encontrada 
Que não resiste aos ferimentos 
E morre a caminho do funeral.

10 de março de 2014

20 de janeiro de 2014

Descartável

Sem tempo para pensar,
Para ler, conhecer, absorver, analisar,
Qualquer edição, propaganda, opinião,
Parece inquestionável,

Sem tempo para sentir,
Para ver, ouvir, tocar, amar,
Todo sentimento se torna vulnerável,

Sem tempo para criar,
Para inspirar, imaginar, escrever, harmonizar,
Qualquer ideia, poesia, refrão,
Já nasce ultrapassado,

Sem tempo para perder,
Para cair, sofrer, aprender e levantar,
Toda derrota parece um calvário,

Sem tempo para ser,
Condiciona-se a ter

Sem ter tempo,
Para em essência viver,

Existir é descartável.
20/08/2013

14 de janeiro de 2014