31 de dezembro de 2015

A dois


  Fala maluco, tá ai sem blusa, descalço na terra, andando sem rumo, tomando chuva. Cuidado com o espinho que te corta o caminho, te tira do jogo, te afasta do corpo e te deixa sozinho. Sei que a brisa do tempo lhe faz companhia, te toca no peito e te traz energia. Mas na solidão não balance, pois o perigo é constante, se o passo for largo, a caminhada se encurta, passamos do ponto e perdemos o bonde. Te falo com apreço, pois lhe tenho respeito e conheço a tua sina como quem olha por dentro, mas se seguir nessa batida temo que não aguentaremos.

Caro amigo, não te preocupes. Não me sinto sozinho, te sinto aqui dentro cada vez que respiro. Sigo no compasso de um destino que ainda não foi escrito, experimento a liberdade como num gole de vinho, ainda que não tenha o paladar apurado, me delicio com os sabores e me refaço nos amores que ainda estão por vir. Meu peito se abre a cada manhã e se as vezes me calo e te deixo pensar é porque sei que a tua angústia não quer sossegar. Mas entenda, velho companheiro, a inquietude, o desassossego, essa vontade de ser livre e experimentar é o que nos mantém vivos a sonhar. E mesmo que pareça sem rumo, essa tal utopia é o que nos faz caminhar.




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