Porto do Açu
A instalação do Porto do Açu, no norte do Rio de Janeiro, para
alguns pode parecer importante, visando o desenvolvimento regional, a
geração de riqueza, de empregos, modernização portuária, ainda
mais, se acompanhada de um complexo industrial moderno, com grandes
investimentos do grupo LLX.
O porto está sendo construído em uma zona rural, e poderia trazer
benefícios para os moradores da região. Mas, (infelizmente sempre
tem um mas), aquelas pessoas não serão beneficiadas com tal
porto. Os terrenos poderiam se valorizar, as pessoas poderiam
comercializar seus produtos com maior facilidade, já que a
movimentação deve aumentar na região, mas, a oportunidade
desperta o interesse de grandes corporações, e através do capital,
pessoas poderosas como Eike Batista, se tornam cada vez mais
poderosas. No Brasil o dinheiro é capaz de corromper as
frágeis instituições e os direitos constitucionais dos
trabalhadores são suprimidos, para que se atenda o interesse e a
ganância de bilionários.
Agora vejamos a face “democrática” do capitalismo. Esse
sistema, que se fundamenta no capital, e não nos seres humanos, não
teria o seu princípio básico no respeito a propriedade privada?
Ora, se querem construir um complexo industrial, onde vivem 1500
familias de pequenos agricultores e pescadores, e as mesmas são
proprietárias das terras desejadas por Eike Batista, e em nenhum
momento as colocaram a venda, por favor, me respondam, como a tal
justiça brasileira, pode determinar que as terras (produtivas para o
sustento de seus moradores), sejam desapropriadas. Será o início do
fim do capitalismo, e do respeito a propriedade privada, ou será
somente o avanço perverso da lógica capitalista, que corrompe as
instituições e desrespeita até mesmo os seus próprios princípios?
(se é que existe princípio em tal sistema)
Mas, veja bem, esse complexo industrial pode gerar empregos, para as
pessoas que vivem na região. Será? Mesmo que gere empregos ou sub
empregos, as pessoas seriam felizes, tendo que se adaptar depois de
toda uma vida trabalhando com a terra? A felicidade e o bem estar,
não deveriam servir de indicadores ao progresso e ao
desenvolvimento social? As pessoas não deveriam ter o direito de
escolha? Me parece que não. O crescimento econômico desigual e
concentrado parece perpetuar nessa terra.
Segundo Ana Maria Costa em entrevista a Adital, “como a repressão,
a violência e a incerteza têm sido a forma utilizada pelo do
governador do estado, Sérgio Cabral, pela prefeita de São João da
Barra, Carla Machado e pelo Grupo do Eike Batista para tomarem as
terras dos agricultores e expulsá-los, as condições de vida destas
familias estão totalmente alteradas e o processo de desapropriação
é o monstro que ronda e tenta desestabilizar a vida pacata, honesta
e de trabalho que sempre tiveram... até agora foram construídas
somente 34 casas, com uma pequena área no entorno, de apenas dois
hectáres. Além do acordo feito com as familias no processo de
reassentamento, em que a Companhia de Desenvolvimento Industrial do
Estado do Rio de Janeiro – Codin e a LLX comprometeram-se em dar
toda a infraestrutura para a produção agrícola – o que não
ocorreu ainda-, os reassentados foram orientados a não iniciar a
produção, em especial a de culturas permanentes como árvores
frutíferas, em função da empresa ainda não ter a propriedade
dessa área. Essas terras pertenciam ao grupo OTHON/Usina Barcelos e
se encontram em litigio, pois existem dividas trabalhistas com seus
empregados. Considerando-se a hipótese de que todas as familias
aceitem ser transferidas, primeiramente não haveria casas e terras
para todas e, em segundo lugar, elas poderiam ser novamente expulsas
a qualquer momento”.
Vejam o absurdo e as contradições disso tudo. Pouco tempo atrás,
fomos testemunhas de uma reintegração de posse violenta ocorrida no
bairro do Pinheirinho em São José dos Campos, onde 1600 familias
foram expulsas de suas casas para beneficiar o já conhecido Naji
Nahas, proprietário da falída Selecta, especulador que devia milhões
para a prefeitura, o estado e a união. Mesmo assim, o sujeito foi
capaz de colocar nas ruas quase seis mil trabalhadores. Sob a defesa
da propriedade privada, a grande mídia apoiou a atitude covarde do
governador de São Paulo, do prefeito de São José dos Campos e de
juízes que preferem não se atentar a justiça.
Porém, até o momento, não vi essa mesma mídia, dar destaque as desapropriações injustas que estão ocorrendo no Porto do Açu.
Estou cada vez mais confuso com tudo isso. Podem desapropriar as
terras de trabalhadores honestos, agricultores, pescadores e
artesãos, mas não podiam desapropriar o terreno de Naji Nahas, que
abrigava quase seis mil trabalhadores no Pinheirinho.
Afinal, o que é o desenvolvimento?
Mais terras para os especuladores, e cacetete, bombas e balas de borracha
para os trabalhadores?
Fica cada vez mais nítida a idéia de Ordem na periferia (a base da
porrada) e Progresso para a burguesia (com as instituições públicas
a serviço dos interesses privados).
Assistam o vídeo denúncia, sobre as desapropriações no Porto do Açu:
http://www.youtube.com/watch?v=RA9h2AKGlSc
Enviado por lelebucker em 13/07/2011
Referência:
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=65738
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