31 de dezembro de 2015

A dois


  Fala maluco, tá ai sem blusa, descalço na terra, andando sem rumo, tomando chuva. Cuidado com o espinho que te corta o caminho, te tira do jogo, te afasta do corpo e te deixa sozinho. Sei que a brisa do tempo lhe faz companhia, te toca no peito e te traz energia. Mas na solidão não balance, pois o perigo é constante, se o passo for largo, a caminhada se encurta, passamos do ponto e perdemos o bonde. Te falo com apreço, pois lhe tenho respeito e conheço a tua sina como quem olha por dentro, mas se seguir nessa batida temo que não aguentaremos.

Caro amigo, não te preocupes. Não me sinto sozinho, te sinto aqui dentro cada vez que respiro. Sigo no compasso de um destino que ainda não foi escrito, experimento a liberdade como num gole de vinho, ainda que não tenha o paladar apurado, me delicio com os sabores e me refaço nos amores que ainda estão por vir. Meu peito se abre a cada manhã e se as vezes me calo e te deixo pensar é porque sei que a tua angústia não quer sossegar. Mas entenda, velho companheiro, a inquietude, o desassossego, essa vontade de ser livre e experimentar é o que nos mantém vivos a sonhar. E mesmo que pareça sem rumo, essa tal utopia é o que nos faz caminhar.





15 motivos para uma revolta


15 chacinas em menos de um ano!


Lei antiterror não proíbe a circulação de balas perdidas

Estatuto da família

Redução da maioridade penal

Mais celas, menos salas de aula,

Desemprego, ajuste fiscal,

Sonegação, dos homens de ben(s)

Corrupção,

Vale de lama

Desagua chumbo no útero de pacha mama

800 quilômetros de morte,

Amargam rio, oceano, tribos e cidades

Falta água, falta amor,

Terceirizam trabalhadores e responsabilidades

Monarca toma posse do congresso.


Classe média vai as ruas pedir impeachment

Por pedaladas.

As fiscofaixas incomodam,

Ao menos, as avermelhadas.

Paisagens urbanas - Jam Cia. as Marias - Jd Calux S.B.C.


29 de novembro de 2015

Genocídio


“Menino, mundo, mundo, menino” Emicida



Menino, bola, sonhos, campinho,

Campinho, sonhos, bola, menino,

Sonhos, bola, menino, caminho,

Bola, campinho, sonhos, menino,

Caminho, bola, bala, extermínio.
Dedicado a Christian Andrade

23 de agosto de 2015

Estado terrorista


Em menos de uma hora
Dezoito vidas
Sem nomes
Sem história
Estatística pra grande mídia

A cidade não ficou alerta
Nem o Brasil urgente
Cobriram mais uma chacina
Com sangue nas lentes

Nos terraços iluminados
Ninguém bateu panela
Três dias depois
Paulista verde amarela
Revolta seletiva, sem luto nem vela

Congresso conservador
Aprova lei antiterror
Redução da maioridade penal
Pra segurança pública
Juventude periférica é marginal

A rota dos ratos segue morro acima
Entre becos, vielas
Subúrbios, favelas
Pra preto, pobre
Bala é sina

É mães de maio, de agosto
Finados todo dia
Na democracia do capital
A dita ainda é dura
E o estado terrorista.